Há anos vimos encontrando em nossas expedições pelo interior do país espécies de palmeiras supostamente novas para a ciência. Visando nos auxiliar nesta discussão, convidamos o botanico americano Larry Noblick do Montgomery Foundation de Miami, velho amigo e colaborador, que há anos estuda as palmeiras brasileiras dos gêneros Syagrus, Butia e Lytocaryum.
Após os estudos rotineiros das espécies herborizadas e depositados no Herbário Plantarum (HPL) doJardim Botânico Plantarum, o convidamos para uma expedição pelo Centro-Oeste e Sudeste do país até o sul da Bahia, regiões estas onde se encontram a maioria das espécies novas em estudo.
Tudo planejado e preparado, partimos finalmente para a viagem que duraria duas semanas. Além das espécies novas, o Dr. Larry tinha interesse em ver também algumas espécies que ele nunca havia visto no habitat natural. Assim, logo na partida em direção ao oeste para o Mato Grosso do Sul, paramos no cerrado remanescente da região de Itirapina/São Carlos – SP para ver uma população deSyagrus loefgrenii, uma palmeira acaule de pouco mais de 40 cm de altura (foto 1).
Seguindo para o oeste e já no Mato Grosso do Sul fomos logo vendo as palmeiras aí presentes e possivelmente novas: a primeira de tronco múltiplo de mais de 1 m de altura chamou a atenção do visitante, que a princípio a identificou como uma forma de Syagrus flexuosa, logo mudada para “não sei”, com o que também concordei; no final, ambos concordamos que possivelmente seja uma espécie nova (foto 2).
Logo a seguir avistamos outra espécie do gênero Butia, uma pequena palmeira de menos de 1 m de altura e ainda possivelmente desconhecida da botânica (foto 3). Finalmente fomos ver a terceira e ultima das três espécies previstas para o Mato Grosso do Sul e considerada a menor de todas as palmeiras conhecidas; já em fase final de publicação de sua descrição se chamará Syagrus procumbens e descoberta pelo próprio Larry há alguns anos no estado de Goiás.
Seguindo agora para o nordeste e em seguida para o leste entrando no Triangulo Mineiro até o Alto Paraíba tomamos o rumo o norte para o município de Vazante onde havíamos visto alguns meses antes uma palmeira cespitosa com aspecto de gramínea que achávamos tratar-se de uma espécie nova, ideia essa logo frustrada com a conclusão do Larry de que se tratava de uma forma de Syagrus graminifolia de folhas verdes, em contraste com as folhas verde-azuladas da forma típica existente em Goiás.
Seguindo agora no sentido noroeste para o estado de Goiás com destino a região da Chapada dos veadeiros, ainda podemos contemplar no caminho na região de Cristalina várias populações deAllagoptera leucocalyx, Syagrus graminifolia (forma típica), uma população de Butia leiospatha, (para alguns apenas uma forma anã de Butia archeri) e finalmente uma população do que até hoje vimos chamando de Syagrus petraea, mas que segundo o Dr. Larry esta identificação é questionável, uma vez que o verdadeiro Syagrus petraea é uma palmeira acaule de inflorescência espiciforme descrita na Bolívia; se esta posição está correta, esse erro vem sendo repetido por todos os autores desde a sua descrição em 1840 (foto 4).
Agora, já na Chapada dos Veadeiros, nos espera uma magnífica palmeira cespitosa de folhas prateadas de 2,5-3,5 m de altura, cuja beleza até distraiu a atenção de Larry de outras espécies que também as consideramos novas. Após o levantamento das medidas, fotografias e coletas de rotina seguimos adiante, agora de volta para o norte de Minas Gerais para mostrar ao Dr. Larry a espécie sendo publicada agora com o nome de Syagrus evansiana em homenagem ao seu descobridor Don Evans, botânico americano que viajou pela região muitos anos antes e nos forneceu há poucos anos as suas coordenadas para reencontrá-la. Na mesma região aproveitamos para mostrá-lo mais uma espécie de Syagrus de menos de 30 cm de altura de folhagem extremamente ornamental que havíamos descoberto há alguns meses antes (foto 5).
Continuando a viagem na direção sul pela região da Cadeia do Espinhaço fomos rever algumas espécies de identidade dúbia como: Syagrus mendanhensis e o complexo Syagrus duartei/S. glaucescens, que após observações detalhadas de suas populações não chegamos a nenhuma conclusão sobre o complexo, porém ficou muito claro sobre a identidade de Syagrus mendanhensis, agora considerada uma espécie boa.
Mudando nossa direção para o leste, seguimos para nossa penúltima etapa da viagem no norte do Espírito Santo, para ver a espécie denominada provisoriamente em nosso livro “Palmeiras Brasileiras” de “Syagrus sp. nova 2” (foto 6).
Crescendo geralmente sobre montanhas rochosas, logo localizamos uma grande população no município de São Gabriel da Palha. Apesar do acesso difícil, conseguimos com nosso veículo especial chegar até o topo do monólito onde se localizava a população: maravilha! exclamou Larry ao vê-la tão exuberante e majestosa; e tudo como se sonha nestes casos, com flores e frutos. Após os levantamentos, medições, coletas e fotografias de praxe que durou pouco mais de 2,5 horas, já no final da tarde, iniciamos a descida, numa operação considerada por todos arriscada, mas que felizmente realizada com sucesso, até o momento em que chegávamos à casa do proprietário da área, todos eufóricos com a nova descoberta; já embaixo da montanha, numa displicência de nosso motorista, capotamos o pesado veículo num degrau do pátio da casa de pouco mais de 1 m de altura, causando quase perda total, mas felizmente apenas um membro da equipe sofreu leves ferimentos (foto 7).
Daqui partiríamos para a última etapa da viagem no sul da Bahia a cerca de 700 km daqui, para ver uma nova espécie de palmeira do gênero Lytocaryum. Diante do ocorrido, tivemos que mudar os planos, com a maioria dos expedicionários voltando para nossa sede em Nova Odessa – SP, cerca de 1.400 km daqui, junto com nosso veículo guinchado e, eu e o Larry tomamos um ônibus e seguimos numa viagem que durou toda à noite até a cidade de Eunápolis no sul da Bahia, onde na manha seguinte nos esperava o Eng. Agr. Alex Guimarães, descobridor da nova espécie.
Após poucas horas de Eunápolis já estávamos no habitat natural da nova palmeira, constituída por uma pequena população de 25-30 plantas (única população conhecida): “maravilhosa”!, exclamou Larry; “em quase 30 anos de pesquisa nunca vi nada novo que fosse tão diferente do que já era conhecido”; trata-se de uma palmeirinha de tronco simples de menos de 40 cm de altura com folhas graciosamente belas, com frutos vermelhos dispostos em infrutescências acima da folhagem como que coroando a planta (foto 8). Após os procedimentos de rotina (medições, levantamentos, fotografias, coletas, etc.) seguimos até Itabuna, ainda no sul da Bahia, para ver uma nova espécie de Geonomatambém descoberta pelo Eng. Agr. Alex Guimarães em sua própria fazenda no município de Itacaré, encerrando ai a longa viagem.
Situado na área urbana de Nova Odessa (Região Metropolitana de Campinas, a cerca de 120 km da Cidade de São Paulo – SP), o Jardim Botânico Plantarum é um centro de referência em pesquisa e conservação da flora brasileira. Foi idealizado a partir de 1990, por iniciativa do engenheiro agrônomo e botânico brasileiro Harri Lorenzi.
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