Caatinga

Expedições

Uma exuberância de cores e formas transforma a caatinga

O nome dado pelos tupis à vegetação seca da caatinga de “mata branca” (“caa tinga”) reflete este bioma durante o período mais seco do ano, com calor escaldante que incide sobre sua paisagem. Situação contrastante do observado pela expedição de sete mil quilômetros do Instituto Plantarum realizado em fevereiro, da qual participaram além do Eng. Agr. Harri Lorenzi, o Biólogo Ricardo Soares Pimenta, doutorando UNESP/Jaboticabal – SP e o viveirista Ricardo Campos de Dona Euzébia – MG.

Uma explosão de cores e vida entre bromélias, orquídeas, cactos, arbustos e palmeiras transformam a caatinga em um dos mais belos biomas brasileiros (foto 1). O período chamado de “verdem”, quando todas as plantas readquirem sua magnitude, a metamorfose deste ecossistema impressiona todos expedicionários acostumados com conceitos de seca e vegetação monótona do sertão baiano. Uma viagem pelas várias paisagens fitogeográficas destas áreas secas e serras úmidas, baixios e brejos, revestidos de floresta tropical (AB’SÁBER, A. 2008) (foto 2).

Expedição carregada de surpresas, como a confirmação do híbrido de Attalea compta e Attalea geraensis ocorrida no município de Montes Claros – MG (foto 3), graças à atenta observação do viveirista e expedicionário Ricardo Campos em uma de suas buscas por plantas naquela região. Nesta mesma região ocorre uma variedade de Syagrus flexuosa de pequeno porte e com folíolos diferenciados de coloração verde-prateada.

A viagem segue com destino à Bahia à procura de novas espécies de palmeiras. No município de Caetité – BA, a equipe se depara com uma variedade de Allagoptera campestris extremamente ornamental, por suas folhas prateadas e grande porte, dividindo o espaço com as palmeirasAstrocaryum camprestre e Syagrus werdermannii.

Um dos mais belos lugares do Brasil – a Chapada Diamantina – BA, impressiona os visitantes pelas formações rochosas embrenhadas de corredeiras e cachoeiras (foto 4); neste cenário encontramosSyagrus harleyi, palmeira de grande beleza, endêmica ao estado da Bahia; chegando à cidade de Mucugê, avistamos um cenário no mínimo curioso – uma construção do século XIX chama a atenção na entrada da cidade frente á uma montanha rochosa. Trata-se do Cemitério Bizantino, repleto de miniaturas de igrejas e de capelas em formas góticas e pontiagudas. As obras, todas muito branquinhas, ganham iluminação azulada ao anoitecer (foto 5).

Nas proximidades do município de Morro do Chapéu-BA, uma espécie em particular chama a atenção da equipe por sua singularidade e por se encontrar em aérea de risco devido à retirada de areia, correndo serio risco de extinção: Syagrus microphylla, palmeira solitária ou cespitosa de extrema beleza, destacando-se na paisagem pela coloração verde-azulada, com grande potencial paisagístico (foto 6).

Uma expectativa toma conta da expedição pela localização de duas palmeiras híbridas: Syagrus xmatafome, resultante do cruzamento natural de Syagrus coronata e Syagrus vagans no município de Itatim – BA, e Syagrus x tostana, originada do cruzamento natural de Syagrus coronata e Syagrus schizophylla (fotos 7 e 8).

Desbravando o sertão deparamos com populações de Syagrus coronata, espécie de importância comercial regional pela retirada de madeira para obtenção de carvão. Seguindo em direção ao litoral, visitamos o Jardim Botânico de Salvador, onde recebemos a colaboração do Msc. biólogo Erivaldo Pereira Queiroz, integrando-se a equipe na coleta de informações da flora da Floresta Tropical Atlântico. Em visita à região da Costa do Sauípe – BA, contamos com a cortesia do Eng. Agr. Danilo Lima, responsável pela área de meio ambiente da Fazenda Sauípe, região de extrema beleza por suas dunas, praias e paisagens paradisíacas. Neste contexto encontramos populações de Allagoptera brevicalyx, espécie encontrada nas restingas da Bahia e Sergipe, ótimas para projetos paisagísticos na zona litorânea e Bactris glassmanii. Após a despedida de nossos colaboradores da região de Salvador, seguimos em direção à região sul do estado, onde a restinga é substituída pela Floresta Tropical Atlântica ou Hiléia Bahiana, onde além de sua exuberância e riqueza, nos deparamos também com as dificuldades inerentes às caminhadas pela mata fechada. Depois de algumas horas uma sensação de cansaço toma conta do corpo, provocada pela excessiva transpiração e consequente perda de água, além dos imprevistos acidentes como queda em barrancos escorregadios, ferroadas de abelhas e animais peçonhentos; entre tantos contratempos, este bioma encanta e desperta os sentidos dos expedicionários pela sua riqueza em biodiversidade.

Já na região de Itabuna, a expedição ganha mais dois colaboradores: o Biólogo Dr. Jomar Jardim – bolsista do Instituto Plantarum e o Eng. Agr. Alex Lima Guimarães – empresário e colecionador de palmeiras, ambos amantes da natureza e que muito têm contribuído com as pesquisas da flora brasileira e sua conservação (foto 9).

Embreados na mata percorremos populações de Attalea e encontramos o híbrido de Attalea humilis eAttalea funifera, denominado de Attalea x voeksii. Em meio à mata uma euforia toma conta da equipe ao nos depararmos com uma nova Geonoma e uma das mais belas espécies do gênero; em sua forma ela impõe toda sua beleza com folhas inteiras de cor negro-vinácea, formando touceiras (foto 10). Mais adiante outra espécie de Geonoma surpreende a expedição pela magnitude e forma de suas folhas, talvez mais uma espécie ainda desconhecida da ciência; pudemos ver também outras espécies de Geonoma, Bactris e uma população de Euterpe edulis (palmito-juçara) de palmito vermelho; continuando na direção sul, nos despedimos de nossos colaboradores da região cacaueira e nos juntamos na região de Itapebi e Itororó aos amantes da natureza, João das orquídeas e seu fiel escudeiro Raimundo, ou mundinho para os íntimos. Foi ali que tivemos o prazer de reencontrar a nova espécie de Lytocaryum descoberta pelo João das orquídeas e já em processo de descrição. Continuando para o sul, já no estado de Minas Gerais, nos deparamos com uma população deSyagrus picrophylla (coco-de-quarta) de folhas verde-azuladas de grande beleza.

Em São Gabriel da Palha – ES, o prof. Luis Leôncio Lorenzoni da UFES integra-se a equipe na coleta de dados e materiais de uma nova espécie de Syagrus encontrada em sua fazenda e que já estamos descrevendo. Momento de adrenalina e superação pela subida do paredão de pedra onde se encontra a população desta espécie, dificuldades agravadas pela inclinação do morro, peso da caminhonete lotada, horário (noite) e pelo sinistro da última passagem. A união e a segurança da equipe persuadiram mais forte, trabalho perfeito.

Escalamos árvores em busca de uma flor ou fruto, subimos despenhadeiros para encontrar uma palmeira. Andamos dias e semanas para descobrir uma nova espécie de planta e quando nos deparamos com uma – não há palavras capazes de descrever a sensação. Euforia, contemplação, dedicação e estudo. Ao final de mais uma expedição vem a gratificação.

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