Parque Nacional da Amazônia

Expedições

Expedição organizada para realizar um levantamento preliminar da flora desta Reserva Florestal, caracterizada principalmente por uma vegetação pluvial tropical

Percorreu-se durante uma semana várias trilhas já abertas na área próxima à Rodovia Transamazônica e à base de Uruá desta unidade, coletando, observando, anotando e fotografando as plantas que estavam presentemente em flores ou frutos. Os vários botânicos que participaram, tinham especialidades e interesses específicos, permitindo a coleta de vários grupos vegetais presentes na área. Apesar da pequena extensão do parque explorada, pode-se concluir que se trata de uma área de grande diversidade vegetal quando comparada com as demais regiões Amazônicas, fato este bastante relacionado com a variação dos ecossistemas presentes; apesar de tratar-se de uma floresta pluvial tropical, a mesma contém todas as variantes possíveis neste tipo de bioma: floresta de terra firme, floresta periodicamente inundável, floresta de galeria, campinas e campinaranas, floresta palustre e vegetação secundária. Os participantes da expedição, presentes na foto abaixo são: Harri Lorenzi – estudioso de Arecaceae e Acanthaceae; Silvana Vieira – dedicada ao estudo do grupo das Zingiberales (Marantaceae, Cannaceae, Costaceae, Heliconiaceae e Zingiberaceae); Luis Carlos Bernacci – pesquisador das Passifloraceae e Thiago B. Flores – iniciante do estudo das Meliaceae. 

O apoio pronto e eficaz da direção do Parque e de sua equipe, aliado à ótima estrutura e localização do alojamento da base de Uruá, foi fundamental para o sucesso do trabalho. Os principais grupos vegetais levantados na área foram os seguintes: Arecaceae, Marantaceae, Passifloraceae, Acanthaceae, Araceae, Heliconiaceae e Costaceae. A seguir, apresentamos um resumo dos levantamentos das espécies de cada grupo.

Arecaceae (palmeiras):

Existem no Brasil cerca de 300 espécies de palmeiras conhecidas da ciência, distribuídas em 38 gêneros, abrigando a região Amazônica quase a metade deste número. Foi realmente uma surpresa a grande diversidade de palmeiras encontradas na área, superando em muito o número de espécies encontradas em igual área de outras regiões Amazônicas. Foram 33 espécies, incluindo uma possível espécie nova, cujos nomes, em ordem alfabética, são listados a seguir:

A família Marantaceae, é composta por ervas que variam desde plantas de pequeno porte até plantas de porte mediano, podendo ser também escandentes. Os integrantes desta família distribuem-se por todas as regiões tropicais, subtropicais e subtemperadas do mundo, com exceção da Austrália. 
A grande maioria das espécies (ca. 80%) ocorre na região neotropical, enquanto somente 11% são asiáticas e 9% são africanas. Atualmente são reconhecidos 31 gêneros e cerca de 550 espécies para a família, sendo que a grande maioria das espécies (ca. 450) ocorre no Neotrópico, onde estão distribuídas em 14 gêneros. Os representantes desta família podem ser encontrados em diversos habitats, desde florestas, tais como as florestas atlântica e amazônica, até ambientes savânicos como os cerrados. A maioria das espécies prefere ambientes úmidos e sombreados, embora diversas espécies cresçam em ambientes mais secos, inclusive entre rochas. 
No Brasil, a maior parte das espécies de Marantaceae estão concentradas na Floresta Atlântica, no sudeste, onde podemos encontrar alguns gêneros endêmicos, e na Floresta Amazônica, que devido a sua extensão, contém uma grande diversidade de espécies.
Muitas das espécies incluídas na tabela 1 não puderam ainda ter suas identificações confirmadas uma vez que os espécimes encontrados estavam em estado vegetativo. Alguns indivíduos de espécimes nesta situação foram coletados vivos e trazidos ao jardim botânico e acondicionados em ambiente apropriado para serem identificados assim que florescerem.
Finalmente, duas das espécies encontradas não puderam ser identificados nem a nível genérico, sendo, muito possivelmente táxons inéditos e novas coletas são necessárias para determinar sua identidade.
Tabela 1: Espécies da família Marantaceae encontradas no Parque Nacional da Amazônia.
Além dos grupos principais acima apresentados, foram também coletadas dezenas de plantas de grupos menos presentes na área, contudo igualmente importantes, como:
Araceae – 20 espécies;
Acanthaceae – 12 espécies;
Rubiaceae – 8 espécie;
Heliconiaceae – 9 espécies;
Costaceae – 6 espécies.

 

Pode-se notar na área, locais onde a concentração de palmeiras era visivelmente maior que em outras, caracterizando isso, aptidão de alguns grupos por determinados ambientes e tipos de solo.

 

A ocorrência de uma única espécie do gênero Syagrus constituiu-se no principal achado científico desta expedição, porque, a se confirmar como sendo da espécie Syagrus smithii (dependendo do exame dos frutos que não foram vistos), seria o primeiro registro desta espécie para o território brasileiro fora da região da Serra do Divisor no extremo oeste do estado do Acre; caso isso não se confirme, então seria uma espécie nova para a ciência.

 

O gênero Calathea é especialmente diverso na Floresta Amazônica, mas dois gêneros são endêmicos desta formação, Monophyllanthe e Hylaeanthe. Estes últimos são gêneros pequenos e com distribuição relativamente rara na floresta, ambos em perigo devido à destruição sistemática dos seus habitats. O estudo realizado no Parque Nacional da Amazônia está relacionado a estudos já em andamento, como a monografia da Flora Neotropica para os gêneros incluídos no Clado Maranta (Maranta,Saranthe, Myrosma, Ctenanthe, Stromanthe, Hylaeanthe e Monophyllanthe), além da revisão dos caracteres morfológicos (projeto em andamento), o que vai servir de base na recircunscrição dos gêneros incluídos no clado Maranta. O estudo dos demais gêneros incluídos na família será também usado como base para a revisão morfológica dos termos descritivos utilizados nesta família, com a intenção de uniformizar a nomenclatura.  A identificação e a atualização de identificações de todas as coleções mencionadas são extremamente importantes para futuros estudos conservacionistas, já que os membros desta família são componentes importantes no subosque da floresta. Dados de distribuição geográfica e identificações confiáveis são de extrema importância para a obtenção de resultados também confiáveis e úteis. Como resultado do período de observação, identificação e coletas de amostras realizadas no Parque Nacional da Amazônia, pode-se já em primeira instância citar a presença de 19 espécies distribuídas em cinco gêneros (ver tabela 1). Este número de espécies pode ser aumentado para 21 ou 22 se, como se espera, o Complexo Calathea propinqua (ver tabela abaixo) conter na verdade três espécies. Calathea, como esperado foi o gênero com maior número de espécies, seguido dos gênerosMonotagma e Ischnosiphon. Estes dois últimos com distribuição quase exclusivamente amazônica.

 

O gênero Maranta, cujo centro de diversidade é o planalto central brasileiro, apresentou duas espécies ocorrendo no parque, uma delas, Maranta cyclophyla, teve sua área de distribuição aumentada devido a sua presença no parque, uma vez que sempre foi citada como uma espécie endêmica do Brasil central. A outra espécie, uma espécie ainda inédita para a ciência, parece ser endêmica de florestas amazônicas e será descrita em breve.

Passifloraceae:

A família Passifloraceae (a dos maracujás), conta com cerca de 145 espécies conhecidas da ciência no Brasil, contendo a região Amazônia menos de 50 espécies conhecidas. Apenas 11 espécies foram encontradas na área do PARNA, contudo, representando cerca de 30% de todas as espécies Amazônicas. Os nomes destas estão listados a seguir em ordem alfabética.

Várias espécies de maracujá encontradas na reserva apresentam potencial ornamental ou frutífero, destacando-se Passiflora vitifolia e Passiflora nitida 

Conclusão:

A experiência e o acúmulo de conhecimentos desta expedição foram extremamente úteis para toda a equipe, dos quais alguns participantes nunca haviam coletado na região Amazônica. Considerando à grande extensão da área, aliada à sazonalidade fenológica da vegetação, torna-se premente o retorno à área em mais de uma época do ano para se poder acompanhar sua fenologia e completar o levantamento, além da necessidade de amostrar uma área bem maior daquela que foi possível percorrer.

 

Nova Odessa, 20 de outubro de 2010.
Harri Lorenzi – Diretor

 

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